domingo, 4 de outubro de 2015

Renault Willys Gordini, 1963, Preto Bali.

O do meu tio era igualzinho a este - havia uma foto aqui em casa, na qual ele aparecia decorado com o número 22 (da Equipe Willys) nas portas dianteiras 


Meu nome é Sandro e sempre tive vontade de criar um blog sobre carros. Após conhecer alguns de pessoas que relatam histórias sobre os seus, decidi criar o meu. Mas estenderei aos veículos da minha família, pois a maioria fez parte da minha infância e são os mais antigos - os que mais gosto.

Tudo começou com meu tio, José de Ribamar, que veio do Piauí para a cidade de São Paulo, em 1968. Seu sonho era visitar sua cidade natal, Parnaíba, Piauí, de carro. Esse sonho começou em 1967, quando ele ainda morava em Parnaíba: um primo, que morava no Rio de Janeiro, ganhou, em um sorteio, um DKW Belcar, zero quilômetro, aquele de 4 faróis dianteiros e foi do Rio para Parnaíba com ele, em uma viagem de 2800 km só de ida, passar as férias. Foi o "acontecimento do ano", toda a família, amigos, vizinhos, comentavam a empreitada. Quando esse primo voltou ao Rio com o Belcar, meu tio ficou suspirando, com o sonho de morar fora e ir passar as férias em Parnaíba, de carro.

Como eu relatei acima, meu tio havia se mudado para SP em 1968 e, em 69, meu pai, Francisco, havia terminado o serviço militar no 25° BC, em Teresina. Assim, pegou carona em uma Willys Rural do Exército e voltou para casa dos pais, em Parnaíba. Sem emprego, aceitou o convite de seu irmão, meu tio José, e se mudou para SP. Meu tio trabalhava como estoquista na Antárctica e conseguiu uma carona para o meu pai em um caminhão Mercedes-Benz "cara-chata", que levava cerveja para Teresina. Meu pai foi de trem de Parnaíba para Teresina e, de lá, de caminhão para Sampa. Foram 3 dias e 3 noites de viagem, até chegar a nova cidade. Foi morar com meu tio em um apartamento na rua Piratininga, no Brás, e trabalhar junto com ele na Antárctica.

Em 1972, finalmente meu tio conseguiu comprar seu 1° carro: um Renault Willys Gordini 63 preto. Meses antes, havia adquirido um  toca-fitas, para instalar no futuro carro. Porém, o mesmo teve que entrar no negócio, junto com uma TV preto e branco, um aparelho de som 3X1 e uma quantia em dinheiro. O carro ficou sem som, mas meu tio, enfim, tinha um "para chamar de meu". A ânsia em ter um automóvel, fez com que pagasse caro pelo Gordini, que não estava em bom estado. 

Vira e mexe, afogava no meio da rua e precisava ser empurrado. Em uma dessas vezes, meu pai conta que pediram ajuda a um rapaz, que estava em um ponto esperando um ônibus. Porém, alguém aproveitou que o jovem estava empurrando o carro, roubou a marmita dele e saiu correndo. Pior que meu pai e meu tio não tinham um tostão para comprar uma marmita nova, nem mesmo um almoço para o prestativo homem. Após esse episódio, meu tio decidiu trocar o carro. 

Ele queria reformar este carro para viajar ao Piauí, mas caiu na real que não compensava. Então deu o Gordini de entrada, financiou o restante em 24 vezes e pegou, em 1973, um Fusca 1300 "tigrão", Branco Lótus, ano 1967, do qual contarei a história na próxima postagem. 

O Gordini, o "Burro Preto", como meu tio o apelidara, foi embora sem nunca ter pego estrada em suas mãos.

Durante anos, havia uma foto desse Gordini aqui em casa, desfilando pelas ruas da Mooca, com adesivos "número 22", da equipe Willys, colados nas portas dianteiras, mas há muito tempo sumiu. A imagem que ilustra o post, achei na internet, e é de um modelo idêntico ao do primeiro carro do meu tio.

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