sábado, 24 de outubro de 2015

Fiat 147, 1979, Branco Alpi.

O nosso era idêntico a esse
Passamos o Natal de 1990 "desmotorizados". Época em que ainda não tínhamos TV por assinatura, então minha família se divertia assistindo a novela Barriga de Aluguel, a Escolinha do Professor Raimundo e sentia medo ao assistir os episódios da série "Fronteiras do Desconhecido", da extinta TV Manchete (lembro até hoje do medo quando assisti o episódio "A Casa do Penhasco"). Era o havia para fazer, em uma cidade pequena como Pirassununga, sem um carro na família. Os poucos rolês que eu dava, eram pelo bairro da Vila Steola, com minha bike: uma Caloi Cruiser amarela, "ano 1989".

Porém, poucos dias antes do Natal, recebemos a visita do meu primo Fabiano (hoje, guitarrista de banda), que na época morava em Pimenta Bueno, Rondônia, e tinha vindo passar uns tempos em SP. A chegada do meu primo (2 anos mais velho do que eu) mudou minha rotina, pois ficávamos até altas horas falando de carros, motos e mulheres. Ele contava dos rolês que dava na Chevy 500 branca que sua mãe (minha tia Suzete) possuía em Rondônia. Íamos diariamente à locadora alugar filmes de Kung Fu (do Bruce Lee, do Van Damme etc.). Contávamos piadas, víamos as meninas passarem em frente de casa e assim foi por uns 10 dias, até que na manhã de 31 de dezembro, ele pegou o ônibus da Viação Danúbio Azul, rumo a Campinas, para passar o reveillon na casa da nossa avó Adelita - que morava no Bairro Castelo.

A monotonia voltou, mas por pouco tempo: na primeira semana de janeiro de 1991, minha mãe chamou minhas irmãs e eu para passarmos uns dias em Campinas, na minha avó. Pegamos o mesmo ônibus da Viação Danúbio Azul - um Nielson Diplomata - e pela Rodovia Anhanguera, fomos em direção a Campinas. Chegando no Bairro Castelo, foi uma alegria só! Na época, moravam lá com minha avó, meu irmão Wallistein (que fazia Exército - 27° BIB) e minha irmã Roberta, que trabalhava em um supermercado. E meu primo Fabiano estava passando uns tempos com eles.

Acho que foi uma das melhores férias da minha vida! Não houve nada de mais: não fomos à nenhuma praia, a nenhum clube, nem tivemos acesso a qualquer tipo de luxo! Mas fazíamos o que na vida há de melhor: brincávamos, ríamos, contávamos histórias, inventávamos brincadeiras assistimos pela TV o Rock in Rio II, falávamos sobre carros, motos e mulheres, amanhecíamos o dia assistindo filmes do Cinema Nacional e ouvindo rádio, meu primo ensaiava os primeiros acordes no violão, ouvíamos música no 3X1 (marca Frahm), assaltávamos a geladeira de madrugada e comíamos açúcar puro para matar a fome. Sonhávamos com o Monza, modelo 1991, que havia sido recentemente reestilizado. Mas me agradava também a Chevrolet Ipanema (após a Variant II, 1980, Verde Indaiá, tomei gosto por peruas).

Assim foi por uns 20 dias, até que precisei voltar a Pirassununga, pois minhas aulas na 8ª série, no Instituto (IEP) iriam começar. Logo no primeiro dia de aula, notei que as meninas da minha classe estavam mais atraentes, as que antes eram apenas amigas, agora, aos 13 anos, quase 14, as via de uma maneira diferente. Queria impressioná-las, estar mais perto, coladinho etc.

Foi aí que pedi para meu pai comprar um ciclomotor 50cc para mim, no meu aniversário de 14 anos. Alguns amigos meus já tinham e viviam passeando pela cidade, muitas vezes com garotas na garupa. No dia 10/05/1991, três dias após meu níver, ganhei uma Monark Monareta, preta com o banco vermelho, ano 1989, com 1.200 km rodados, mas que nunca tinha sido documentada e emplacada - compramos do 1º dono, que a havia tirado zero quilômetro nas Lojas Bernasconi, mas nunca havia dado entrada na documentação; portanto, pagamos mais barato. Minha família estava há 5 meses sem carro, mas agora eu tinha uma Monark Monareta preta, para passear por Pirassununga.

Manual do proprietário dela - guardo até hoje

Comprada em Pirassununga, em 29/12/1989, nas Lojas Bernasconi

Minha irmã Thaís, então com 12 anos, também passeava com ela, mas bem pouco e só nas ruas próximas a nossa casa. Já eu, acho que não há uma rua de Pirassununga daquela época, que não tenha passado com minha Monareta! kkkkk Nas avenidas da cidade, lembro que o velocímetro atingia 70 km/h, nas descidas (deveria ser algo em torno de 60 km/h reais). Eu a pilotava cantando Freedom 90, de George Michael ou All Together Now, de The Farm. Eram músicas Pop, mas sentia-me como uma personagem do filme Sem Destino (Easy Ryder).

A minha era exatamente como essa

Era de manhã, de tarde, de noite e eu passeando! Não existia frio, chuva ou calor que me impedissem. Sozinho, com minhas irmãs ou com a turma, rodava centenas de quilômetros por mês! Na época, não se utilizava capacete dentro da cidade e a polícia fazia "vista grossa" para adolescentes andando de ciclomotor dentro da cidade. Repito: dentro da cidade, pois um ano depois, fui pego pela Polícia Rodoviária, na Via Anhanguera, de mobilete - mas essa história contarei na próxima postagem.

Nas férias de julho de 1991, mais uma vez viajei com minha mãe e irmãs, de ônibus (eu queria ir de Monareta, mas era impossível, hehehe) para Campinas. Nessa altura, minha avó havia acabado de mudar do Bairro Castelo, para a Avenida da Saudade, quase em frente ao cemitério. 

Reencontrei meu primo Fabiano, que no dia em que chegamos a Campinas, iria partir de volta para Pimenta Bueno, em Rondônia, com a mãe e o padrasto, em um Fiat 147 C, motor 1.050cc, ano 1984, bege. Lembro da expressão de tristeza do meu primo, com os "olhos rasos d'água", tocando a música "Pra Ser Sincero", de Engenheiros do Hawaii, chateado com a volta para Rondônia, após ficar 7 meses em SP. Lembro da minha tia falando, antes de saírem: "Serão 3 dias de viagem até Rondônia, nesse Fiat". E o "fietinho" foi que foi!

Passei aquelas férias de julho com minha avó e meus irmãos e até passear pelo Cemitério da Saudade era divertido! Kkkkkkk

Em setembro daquele ano, vendi a Monark Monareta preta, que não tinha placa, nem documentos, para um rapaz que morava em um sítio na cidade de Santa Cruz das Palmeiras. O moço que a comprou, iria utilizá-la apenas na zona rural, então não se importou com a ausência da documentação. Levou apenas a nota fiscal que comprovava que o ciclomotor era legal. Meu pai achava que eu tinha que comprar uma outra, documentada e emplacada. Pois, se por acaso eu fosse pego pela polícia, bastava pagar a multa e retirar a mobilete no pátio. Aquela preta, sem documentação, não compensaria mais tirar. Vendia-a com 2.500 km, após ter rodado 1.300 km com ela.

Então, alguns dias depois, fomos ver, na Academia da Força Aérea de Pirassununga, uma Monark Monareta, 1988, vermelha com o banco azul. Era da filha de um major, que a comprou em Piracicaba para ir à faculdade, mas que logo em seguida adquiriu uma moto, e enviou a Monareta de caminhonete, para a casa dos pais, com apenas 950 km rodados. lembro que estava zerada, zerada, ainda mais conservada do que a minha ex-preta 1989.

Foi a primeira vez que pilotei na rodovia. A Academia de Força Aérea fica a 6km de Pirassununga, ligada pela mesma estrada que vai a Cachoeira de Emas. Fui de Monareta na frente e meu pai me seguindo com uma Belina II L, 1983, Branco Diamante, de um colega de trabalho dele. Se a polícia visse.... e viu, mas não foi dessa vez! Apenas um ano depois, na Rodovia Anhanguera - como eu disse, contarei essa história posteriormente. A placa amarela da Monareta era JP-678. E eu estava me sentindo, de ciclomotor "novo".

Mas meu sonho era uma Mobylette da Caloi. A maioria dos meus amigos tinha uma da Caloi e adolescente, na maioria das vezes, quer o que a maioria tem. Então, em dezembro de 1991, vendi essa Monark Monareta 1988, após 3 meses com ela, marcando 2.200 km no hodômetro, após ter rodado 1.300 km nas minhas mãos. Na mesma semana, comprei uma Caloi Mobylette XR (aquela com carenagem), 1987, vermelha, com 2.700 km, que era de uma moça que morava em Araras/SP. Por ora, eu estava realizado!

A minha Caloi era igualzinha a esta, exceto pela cor: a minha era vermelha e branca - o estilo da Caloi era bem mais moderno
Mas antes disso, em outubro de 1991, após 10 meses, finalmente meu pai conseguiu comprar outro carro.

Foi uma longa procura, pois meu pai tinha pouco dinheiro disponível na época. Encontramos Brasília 1973, Ocre Marajó; Fusca 1300, 1973, também da cor Ocre Marajó; Fusca 1500, 1970, Azul Pavão; Variant I 1977, Bege Saara; Corcel I, 1977, Branco Nevasca; Chevette, 1974, Vermelho Fórmula; Passat L, 1974, Bege Alabastro; mas todos caros demais para o nosso bolso. Rsrsrs Foi aí que nos indicaram um Fiat 147, modelo que não era muito valorizado na época. Era um 1977, Bege Sabbia, que estava com um preço bem em conta. O carro não era mais original, estava bem modificado e, quando meu pai o pegou para dar uma volta, decepção total! Suspensão toda arrebentada, câmbio raspando as marchas... Desistimos do negócio!

Mas no mesmo dia, um "corretor" de automóveis chamado Luizinho, que comprava e vendia carros, ficou sabendo que procurávamos um carro barato e foi até nossa casa nos oferecer um Fiat 147, modelo básico (standart, o mais simples da linha), motor 1.050cc, 1979, Branco Alpi. Ele estava negociando a compra de um Escort XR-3 conversível, 1986, por isso nos ofereceu o Fiat a "preço de custo". Levou-nos em um Chevette 1980, Bege Saara, para vermos o 147, que estava em uma oficina de funilaria e pintura.

O carro não era lá essas coisas, mas pelo menos estava bem original. Tinha placas amarelas de Limeira/SP e o endereço no documento indicava que o ex-proprietário morava na zona rural! O motor havia sido retificado há poucos meses (tinha a nota fiscal do serviço) e a lataria tinha recebido, naqueles dias, uma repintura, pois Luizinho disse que o branco original estava bem encardido das estradas de terra.

Tudo somado, meu pai achou a melhor opção e acabou comprando o "fietinho". O hodômetro registrava 13.000 km, mas, pelo estado, creio que o veículo já deveria ter rodado 213.000 km, afinal o carro já tinha praticamente 13 anos e o motor, de 1050cc,  já havia sido refeito.

Era como o da foto: branco, com os para-choques em preto fosco, sem frisos ou molduras nas laterais. O interior estava todo original: bancos revestidos em vinil ou uma napa, não sei bem; os bancos dianteiros não possuíam encosto de caveça; não tinha console central (a alavanca do câmbio aparecia espetada no assoalho); sem tampa no porta-luvas (tudo isso, do jeito como o modelo básico saía de fábrica); volante original de dois raios, com uma bolota no meio estampando a logomarca FIAT; sem nunca ter sido instalado rádio; e o único "luxo", era uma faixa de plástico imitando jacarandá, no painel.

O carrinho era simples de tudo, tanto por dentro, quanto por fora. Mas estávamos felizes, pois após 10 meses, tínhamos novamente um carro.

O Fiat vivia dando problema, principalmente na parte elétrica, no câmbio e na suspensão. Vira e mexe, lá estava ele parado na Oficina do Rubão. Mas quebrou maior galho, pois pudemos voltar a passear em família. Íamos comer peixe nos restaurantes da Cachoeira de Emas, visitávamos minha avó e irmãos em Campinas, fazíamos compras em Leme e em Porto  Ferreira e íamos passear no Shopping de Limeira. Lembro do meu pai atingindo 130 km/h (indicados no velocímetro) com ele.

No final daquele ano, meu irmão Wallistein foi morar em Pirassununga conosco. Chegou em dezembro, em tempo de passar o Natal e o reveillon em família. Meu pai, Wallistein e eu, fomos na véspera do reveillon dar uma volta na praça central de Pirassununga. Momento memorável!

O ano de 1992 iniciou-se com minhas voltas de Caloi Mobylette e meus rolês pilotando o 147. Dirigia bastante pelo bairro com ele. O câmbio era duro, mas preciso (menos a ré, que além de dura, era difícil de engatar)! O volante ficava bem na horizontal, algo bem peculiar - como tudo em um Fiat 147! Aliás, os carros daquela época eram bem diferentes entre si: era um choque cultural sair de um Fusca para um 147, ou mesmo para um Passat - que também era Volkswagen! Ou de um Chevette para um Corcel II ou, ainda, um Monza ou Opala. Ou deste para um Maverick. Muito diferentes! Comportamento, suspensão, posição do câmbio, dos pedais, dos comandos... O barulho de cada um dava para reconhecer de longe! E os cheiros característicos? Os carros de hoje são muito parecidos no tocante à dirigibilidade, à ergonomia, à estabilidade, enfim, a praticamente tudo! Eu adoro os carros atuais, são confiáveis, econômicos, eficientes, bem equipados, mas sinto falta do charme dos antigos!

Em março de 1992, meu pai foi chamado para participar de uma entrevista de emprego na FRUTESP, hoje Coimbra Citrus, em Bebedouro/SP. Ele queria crescer profissionalmente e na Caninha 51 (hoje Indústrias Muller de Bebidas) não teria espaço. Além disso, o departamento em que meu pai trabalhava (localizado na Avenida Painguás), estava sendo terceirizado e muitos funcionários estavam sendo demitidos.

Meu pai pegou a família e fomos de Fiat 147, pela Rodovia Anhanguera, de Pirassununga a Bebedouro, cerca de 400 km, em ida e volta! Na ida, o "fietinho" foi bem, mas na volta, começou a esquentar e afogar nas rotatórias, o escapamento furou e a parte elétrica passou a falhar. Chegamos tarde da noite em casa e meu pai disse que nunca mais viajaria com aquele carro. De fato, já era um veículo de 13 anos de uso, bem judiadinho. Cumpria bem sua função como carro urbano ou para realizar viagens curtas, mas não estava conservado o suficiente para uma viagem de 400 km.

Uma semana depois, meu pai foi demitido da Caninha 51 e, no dia seguinte, recebeu a feliz notícia da FRUTESP, de que havia sido aprovado na entrevista e que poderia começar a trabalhar lá, imediatamente. No fim, deu tudo certo!

Então, meu pai recebeu a indenização trabalhista e o Fundo de Garantia (FGTS). Naquele mesmo mês, março de 1992, encontramos o "corretor" de automóveis Luizinho, que nos havia vendido o Fiat, e nos ofereceu um Ford Del Rey. O Luizinho pegou o nosso Fiat na troca, que entrou como 1/3 do valor do Del Rey, meu pai dando os 2/3 restantes em dinheiro. Após 5 meses e 6.000 km rodados nas nossas mãos, lá ia o 147 de volta para o Luizinho, a fim de que pudesse ser negociado com um novo dono.

Próxima postagem: Ford Del Rey "Série Prata", 4 portas, 1983, à álcool, cor Prata Strato Metálico.



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