domingo, 11 de outubro de 2015

GM Chevette, 1979, Prata Diamantina.

Em janeiro de 1986, meu pai conseguiu um emprego melhor em Goiânia, na Sebba Materiais de Construção. Na época, essa empresa tinha filiais espalhadas por várias cidades de Goiás (algumas no norte do Estado, hoje Tocantins), Brasília e até em São Paulo. O cargo era de gerente de departamento e meu pai, assustado com o alto custo de vida de Brasília e com os problemas respiratórios da minha irmã mais nova, que vivia doente com o clima seco do Planalto Central, decidiu encarar esse novo desafio. Fomos para Goiânia de ônibus, MB O-364, da Viação Araguarina.

Mudamos para lá em fevereiro e fomos morar na Vila Bela, rua Sibipiruna. Minha irmã e eu passamos a estudar na escola Cirandinha (que no ano seguinte mudaria o nome para Degraus). Meu pai passou, praticamente, aquele ano pagando empréstimos que havia feito em Brasília. Vivíamos com conforto, mas não sobrava para comprar um carro. Nosso vizinho tinha um Fusca 1300 L, ano 1979, Amarelo Java, e às vezes, íamos aos, domingos, assistir jogo no Estádio Serra Dourada com ele. Foram as raras vezes em que eu andei de carro, naquele ano. Meu outro vizinho tinha um Chevette Hatch SL, 1983, (daquele modelo que parece Monza), dourado, com interior monocromático marrom, no qual eu simplesmente babava!! Nos finais de semana eu ficava admirando o carro, enquanto o dono lavava, mas nunca tive a oportunidade de andar nele! Alguns moradores da rua tinham Opalas, por isso, nessa época me apaixonei ainda mais por este modelo! Foi o ano da Copa do Mundo e guardo saudosas lembranças de 86. Chorei muito quando a seleção brasileira foi desclassificada pela França.

Em janeiro de 87, meu pai saiu de férias e viajamos de ônibus, da Nacional Expresso, modelo Marcopolo Viaggio (que moderno era aquele ônibus), para São Paulo. De lá, do terminal Tietê, íamos de metrô para o terminal Jabaquara, e pegávamos outro ônibus para o Guarujá (meu preferido era o da Ultra, mas havia também da Zephyr). Naquela época, eu amava viajar de ônibus!

Meu tio, que morava no Guarujá, tinha um Jeep Willys, 1954, cinza, com motor 6 cilindros original e íamos para a praia de Pitangueiras com ele. Amava aquele carro, principalmente passear nele de noite. Mas em 87, meu carro predileto deixava de ser o Opala e passava a ser o Santana, kkkkk. Na verdade, não havia predileto, pois eu amava todos os carros, antigos ou novos.

Voltamos para Goiânia, também de ônibus, 20 dias depois. E no primeiro dia da volta ao trabalho, meu pai recebeu a carta de demissão. Foi um baque em casa, pois quando a situação estava começando a melhorar, recebemos uma notícia daquelas. Nessa época eu me distraía com meu Atari ou jogando Banco Imobiliário, mas percebia a aflição dos meus pais! Fui com meu pai a Anápolis, pois ele tinha algumas entrevistas de emprego lá, mas nenhuma deu certo. Um mês depois, uma empresa de óleo chamada Granol, em Tupã, interior de São Paulo, convidou meu pai para trabalhar naquela cidade. De imediato ele aceitou e poucas semanas depois, nos mudamos para a nova cidade. A mudança foi de caminhão, novamente pela empresa Granero. E nós, de avião para São Paulo (a última vez que andei de avião e a primeira vez que andei de Monza: um Hatch SL/E, 1983 dourado metálico, com interior marrom, táxi, que pegamos para ir ao aeroporto Santa Genoveva...que delícia, andar de Monza!!) e, de lá, de ônibus da empresa Expresso de Prata (modelo Marcopolo Viaggio) para Tupã.

Fomos morar na Vila Abarca, rua Tocantins (na época a rua era de terra, mas as casas eram novas e modernas - bairro novo). Minha irmã e eu passamos a estudar na EE Joaquim Abarca.

Poucas semanas depois, meu pai utilizou o que havia sobrado da indenização trabalhista que recebeu da Sebba e comprou o carro do título da postagem: um Chevette standart, 1979, motor 1400, Prata Diamantina - na época, com 8 anos de uso, mas bem judiado.

O carro era desta cor, com para-choques pintados de preto fosco também, com essas mesmas rodas, porém não era o modelo "Jeans" (creio eu, mas vai saber... pelo menos ele não tinha os adesivos "Jeans" na lataria, não vinha escrito "Jeans" no documento e pelo estofamento, não dava para saber, pois  alguém havia trocado os bancos pelos de encosto alto do Opala). Talvez fosse mesmo um Jeans, descaracterizado...


O carro era de um colega de trabalho do meu pai, que trabalhava na Granol, mas só ficava em Tupã durante a semana, pois ele era de São Paulo, Vila Ema, e esposa e filhos continuavam morando lá. O rapaz ia toda segunda-feira de madrugada, com o Chevette, para Tupã e, no final da tarde de sexta, voltava com o carro para a capital. Logo que meu pai foi trabalhar lá, bem em seguida, o dono do Chevette conseguiu um novo emprego em Sampa e pediu demissão da Granol. Ele havia comprado esse veículo para fazer essas viagens, pois a esposa dele ficava com um outro automóvel, mais novo, em SP. Como ele voltaria para São Paulo, não precisaria mais do Chevette e o ofereceu bem barato ao meu pai.

Na época, era o mesmo valor que pediam por 4 carros que fui ver com meu pai: um Fusca 1300, 1969, Bege Claro; uma Belina I, 1975, branca; uma TL, 1975, Bege Alabastro; ou uma Brasília, 1973, branca. Esses quatro carros eram super conservados -  estavam impecáveis! Mas meu pai os achava "muito antigos", "com cara de carro velho" e preferiu o Chevette - mesmo com muitas coisas para fazer.

Esse carro era Prata metálico de fábrica, porém a pintura estava feia, cheia de trincadinhos e o carro apresentava ferrugem por todos os cantos da lataria. Todos mesmo! Até nas fechaduras!! O estofamento estava com o tecido rasgado, a parte elétrica toda estragada (não funcionavam nem as luzes do painel) e o motor rajava muito! A quilometragem era altíssima (marcava 97.000 km quando o compramos, mas pelo estado, principalmente da mecânica, creio que já tinha virado o hodrômetro, deveria ter rodado uns 200.000 km já) e o carro dava muitos problemas (ficamos várias vezes na rua com ele), não sei como o dono anterior viajava mais de 1000 km (em ida e volta), toda semana, com aquele carro!

Uma vez, fomos a Inúbia Paulista, outra a Marília (cidades próximas a Tupã), e lembro do meu pai reclamando que o carro não conseguia passar de 100 km/h. O motor rajava e "fumava" como nenhum outro.

Apesar de tudo, estávamos satisfeitos com o automóvel, pois ele parecia ser "menos velho" do que outros carros do mesmo preço. Ele tinha um volante Grand Prix, suspensão dianteira rebaixada, para-choques pintados de preto fosc, toca-fitas TKR "cara-preta" (um charme na época, ainda disputado e tinha um certo valor) e os bancos dianteiros eram de encosto alto, do Opala. Uma característica dos Chevette entre 1977 e 1980, era o velocímetro, que possuía uma escala colorida que eu adorava. Até hoje acho linda! 

Quando o compramos, tinha placas amarelas (bem enferrujadas!) de São Paulo, mas meu pai o transferiu e mandou fazer placas reflexivas, que passaram a ser HC-5035, de Tupã/SP.

Minha mãe aprendeu a dirigir neste carro e, em seguida, tirou carteira de habilitação. Logo nas primeiras voltas, amassou os dois para-lamas dianteiros e o Chevette ficou muito feio. Um dia, enquanto ele estava estacionado, alguém bateu na traseira dele e fugiu! O carro estava parecendo um "maracujá" - todo amassado. Meu pai ganhava relativamente bem na Granol e, aos poucos, foi juntando dinheiro para arrumar o carro. No final de 87, mandou fazer a funilaria, a pintura, a tapeçaria e a parte elétrica. O carro ficou lindo, por dentro e por fora! Aquela cor prata metálica saltava aos olhos em 87! Mas apesar do brilho da reforma, no fundo era um carro ruim, já havia sido batido várias vezes, repintado, era rodado e escondia muita ferrugem em suas entranhas. Ainda permaneceu com o motor 1400 ruim e quando íamos a São Paulo ou Guarujá, viajávamos de Prata - o ônibus, não o Chevette! Kkkkk Esse foi o primeiro carro que dirigi, aos 11 anos. Havia uma estrada que ligava Tupã a Universo, na época sem movimento, aprendi a guiar ali, cheguei a colocar terceira marcha no carro!!

Na época, viajávamos muito de trem da FEPASA, que passava por Tupã, vindo de Panorama, com destino a SP. Até para Limeira, fomos de trem. Eu adorava, mas preferia viajar de ônibus. Às vezes, ia a Marília de busão, pela empresa Brambila (modelo O-364).

Mas meu sonho era realizar uma viagem longa de carro, então meu pai prometeu fazer o motor do Prata em 88, para irmos com ele, passar Natal e ano novo no Guarujá. Em dezembro de 88 meu pai fez o motor do carro, mas não ficou bom. Testamos nas estradas da região, fomos até Marília, mas o carro falhava e parava na estrada. Levamos várias vezes para regular e nada, não melhorava! Então, fomos para o Guarujá de ônibus e o carro ficou em Tupã, na retífica (Oficina Coca). Fiquei chateado, mas como adorava viajar de ônibus, a chateação passou logo. Kkkkk Naquela época, existiam muitos táxis Del Rey e Passat, em Sampa.

Dia 1° de janeiro de 89, voltamos a Tupã e, no dia seguinte, minha avó materna ligou de Sampa dizendo que iria viajar de ônibus, Viação Gontijo, para Guanambi, Bahia, e me convidou para ir com ela. Como eu estava de férias, meus pais deixaram.

Na noite seguinte, viajei de ônibus para São Paulo, minha primeira viagem sozinho! Cheguei às 5h da madrugada no Terminal Tietê e minha avó Adelita já estava me esperando na plataforma. Fomos para a casa da minha tia na Vila Munhoz e, no dia seguinte, voltei com ela para o mesmo terminal, mas para embarcar para Guanambi. O modelo era um Marcopolo III, saímos às 9h da manhã de Sampa e chegamos a Espinosa, Minas Gerais, às 6h da manhã do dia seguinte. Lá (na época) trocava-se de ônibus, por outro mais velho, pois de Espinosa a Guanambi, a estrada era de terra. Por volta de 11h, chegamos ao nosso destino, no ponto da Gontijo que havia perto do supermercado Superlar. Meu tio nos esperava em um Fusca 1300, 1973, Ocre Marajó, do mecânico dele. O seu Passat L, 1975, Bege Alabastro, estava parado na oficina por problemas no "câmbio alemão", mas dois dias depois, ficou pronto e, durante os 40 dias que fiquei em Guanambi, andei muito nesse Passat, movido a gás de botijão de cozinha, que possuía placas amarelas de Santos/SP.

Meu outro tio tinha uma moto Yamaha DT 180, ano 1982, branca, com placas do Guarujá, que havia sido do meu tio que mora no Guarujá (aquele que tinha o Jeep Willys, 1954). Adorava passear na garupa desta DT.

Na época, os carros mais velhos de Guanambi eram movidos a gás de cozinha. Os que mais via nas ruas eram C10, C14, Rural e Corcel I.

Minha vó quebrou o braço e não pôde voltar para SP comigo, então voltei de ônibus sozinho (que emoção, eu só tinha 11 anos!).

De Sampa, peguei outro busão (Expresso de Prata) para Tupã e minha mãe foi me buscar na rodoviária. Então, fiquei sabendo que meu pai havia mudado de emprego, tinha ido trabalhar na Caninha 51, hoje Indústrias Müller, por isso, estávamos de mudança para Pirassununga, também no interior de SP, mas a 400 km de distância de Tupã.

Na semana seguinte, meu pai arrumou um interessado e vendeu o Chevette. Com mais um dinheiro que tinha guardado, interou com o que conseguiu com a venda e comprou um Corcel II L, motor 1.4, câmbio de 4 marchas, ano 1979, cor Bege Outono, com interior preto.

Apesar de os dois carros serem do mesmo ano, o Corcel II custou 50% a mais do que o meu pai conseguiu com o Chevette. Mas o Ford era simplesmente fantástico! Único dono, nunca tinha sido batido, pintura sem retoques, sem ferrugem, todo original, inclusive estofamento, volante, rodas, rádio AM/FM Philco/Ford... O melhor carro que meu pai havia comprado até então! Um carro realmente "filé". Confiável, nunca nos deixou na mão e nos levou por diversas viagens durante os 15 meses que ficamos com ele! Mas sua história narrarei na próxima postagem.

P. S.: poucos dias após vendermos esse Chevette, o vimos com a traseira completamente amassada, alguém entrou com tudo atrás dele e afundou bastante! O carro já não era bom... Creio que não teve vida longa...

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