sábado, 24 de outubro de 2015

Ford Del Rey, 4 portas, 1983, Prata Strato.




Em março de 1992, ainda morávamos em Pirassununga, mas estávamos de mudança para Bebedouro - pois meu pai tinha ido trabalhar na antiga FRUTESP (hoje, Coimbra Citrus). Com a indenização trabalhista que recebeu da Caninha 51 (atual Indústrias Müller de Bebidas), trocou o Fiat 147, 1979, Branco Alpi, que tínhamos, por um Ford Del Rey "Série Prata", 4 portas, movido à álcool, ano 1983, equipado com câmbio de 4 marchas original (o câmbio de 5 marchas era opcional em 1983), cor Prata Strato Metálico - pintura de alto padrão, na época da fabricação!  O Del Rey da foto é idêntico ao que era nosso, exceto pela cor.

Na troca, o Fiat 147 entrou como 1/3 do valor do Del Rey e os outros 2/3, meu pai deu em dinheiro.

Foi o nosso primeiro carro à álcool, em uma época em que os à gasolina eram mais valorizados, mas adorava o cheirinho do álcool hidratado sendo queimado de manhãzinha.

O mais curioso é que esse carro saiu de fábrica equipado com câmbio de 4 marchas, o que era raro em Del Rey. Mas estavam lá o famoso relógio digital no teto; o toca-fitas AM/FM estéreo Philco/Ford original, com 4 alto-falantes; o interior monocromático preto, em acabamento de alto padrão; retrovisores externos em ambos os lados, com controle interno; os vidros verdes com para-brisa degradê; o vidro traseiro com desembaçador térmico; as rodas de ferro estilizadas; as 4 portas - todos equipamentos inéditos nos carros da minha família.

O nosso chegou com 133.000 km (o Del Rey já vinha com o dígito da centena de milhar no hodômetro), mas se apresentava extremamente conservado, carro de donos cuidadosos! Veio com placas amarelas de Jaboticabal/SP, mas pelo histórico da documentação, observei que o veículo havia sido tirado zero em Monte Alto/SP e nesta cidade havia sido licenciado até 1990. O Luizinho disse que o havia comprado na cidade de Ribeirão Preto/SP, de um lojista que o havia pego em uma troca. E agora ele estava em nossas mãos, em Pirassununga, e poucos meses depois, mudaria de cidade conosco, onde iria ganhar "chapas" novas, cinzas, BLZ-0228, Bebedouro/SP. Consultei a placa pelo aplicativo Sinesp Cidadão e descobri que, hoje, o Ford encontra-se registrado na cidade de Macedônia/SP. Qual será o atual estado de conservação dele? 

Atualmente, o carro está registrado em Macedônia/SP

No início de 1992, os carros usados com até 8 ou 9 anos de uso eram bem valorizados, no interior de SP. Afinal, carro zero quilômetro era algo para poucos: ricos ou classe média alta (classe média mesmo, aquela que viaja todo ano, tem imóvel confortável, estuda em boas escolas/universidades, não contrai dívidas para comprar bens não duráveis; não essa classe média de hoje, "inventada" pelo governo, da qual faz parte um assalariado que ganha 3 salários mínimos, com baixa escolaridade e que paga aluguel da casa onde mora). 

Mesmo o Fiat Uno Mille era relativamente caro e, na maioria das vezes, adquirido para compor frotas de empresas ou para servir como segundo carro de uma família mais abastada. Alguns da Classe C conseguiam tirar um através de consórcio. Essa situação começaria a mudar no ano seguinte, 1993, quando o então presidente, Itamar Franco, criou um programa de carro popular, no qual os automóveis com motor 1.0 e o Fusca e Chevette 1.6, passariam a custar cerca de 7.000 dólares. E mudaria de vez, após julho de 1994: com o Plano Real, passou a ser possível financiar um carro novo com parcelas fixas, dando a partir de 20% de entrada, dividindo o restante em até 36 vezes. 

Isso significa que para a Classe C da época, ter um carro usado, com até 8 ou 9 anos de uso, era algo relativamente comum. Poucos conseguiam adquirir um zero quilômetro através de consórcio. Ou seja, entre as pessoas de poder aquisitivo parecido com o da minha família, o Del Rey 1983 tinha uma certa presença, apesar de o modelo já ter saído de linha no ano anterior (1991). 

Era de cor prata metálica, possuía um interior relativamente moderno, com relógio digital no teto, um lindo painel e iluminação dos instrumentos azulada (um charme, na época; todos que andavam nele de noite, elogiavam). Era silencioso, macio, confortável, gostoso de dirigir, tinha boa visibilidade, bancos macios, ótimo porta-malas - apesar de não ser muito espaçoso na cabine. Um carro já defasado, mas guardava o seu charme: linhas clássicas, imponente, um belo interior.... não era tão bonito quanto o Monza, mas custava bem menos que ele. 

Eu diria que, no início de 1992, um Del Rey 1983 apresentava um bom custo-benefício: um carro bem mais elegante do que a maioria do mesmo ano e, além disso, custava relativamente pouco. Obviamente não era um modelo procurado por jovens que haviam acabado de tirar a carteira de habilitação, que pelo mesmo valor preferiam Gol refrigerado a ar, Passat 1.500 cc ou 1.600 cc, GM Opala antigo, Monza Hatch ou Chevette 1.6.

Carros como GM Opala Comodoro/Diplomata, GM Monza 3 volumes, VW Santana, Ford Escort ou Fiat Uno custavam bem mais caro do que um Del Rey 83). Mas atendia bem a uma família e era um bom carro para andar na cidade e na estrada - sem pressa, pois o motor 1.6 herdado da Renault não fazia milagres com um carro daquele peso; a despeito disso, lembro do meu pai atingindo, nas descidas, 160 km/h indicados no velocímetro (aferida, a velocidade deveria estar em torno de 145 km/h reais). 

E, de quebra, o nosso possuía 4 portas, em um momento em que o motorista brasileiro passava a preferir esse tipo de carroceria. Recebíamos muitos elogios por isso! 

Claro que o Del Rey sempre teve muitas limitações, a começar pelo projeto antigo já na época. Mas era o primeiro carro médio da nossa família, acostumada com Chevette dos anos 70, Corcel II, Variant II e Fiat 147. É sob esse prisma que analiso a importância que esse modelo teve para nós, no início dos anos 1990. 

Se eu pudesse, compraria um Ford Escort ou um Passat Pointer; mas o carro não era meu, mas da minha família. E mesmo que meu pai quisesse, ele não conseguiria, naquele momento, comprar um Ford Escort, ano 1984 - afinal custava bem mais caro. Eu andava mais como passageiro. E mesmo quando dirigia, o fazia dentro da cidade, bem devagar e sem pretensões de tirar um "racha". Afinal, eu tinha de 14 para 15 anos e não poderia me arriscar. Ou seja, para mim, naquela época, tanto fazia o desempenho de um Fusca 1.200 cc ou de um Gol GTI 2.000 cc, pois eu mal passava de 50 km/h.

Asim como outros jovens da época, eu pegava o Ford Del Rey dos pais para passear. Dois meses após a compra, em maio de 1992, completei 15 anos. Minha família só mudaria para Bebedouro em 9 de julho, pois minha mãe optou por esperar o término do semestre escolar. Ou seja, entre março e julho, meu pai passava a semana toda fora (ia para Bebedouro segunda-feira de manhã e só voltava sexta-feira de noite, de carona em um Passat LS 1.6, 1983, Verde Álamo, com um colega que tinha ido trabalhar com ele na mesma empresa. Então, eu aproveitava para andar bastante no Del Rey pela cidade toda, juntamente com meu irmão Wallistein. 

Eu era alto, não aparentava ter 15 anos e passava despercebido pela polícia - outros tempos, hoje seria muito difícil fazer isso. Lembro de uma vez em que fui com meu irmão no centro da cidade, buscar um aparelho de som 4x1 da Gradiente, que meu pai havia comprado no sábado, mas que na segunda-feira mesmo fomos na loja buscá-lo - pois não tivemos a paciência para esperar a entrega. 

Que tempo bom, viu?! Cursava Ensino Médio, flertava com as gatinhas, meu irmão morava conosco, assistíamos inúmeros filmes (principalmente nacionais), acompanhávamos o Campeonato Brasileiro (no qual, o Flamengo consagrou-se campeão naquele ano, para minha decepção - afinal sou santista), víamos as meninas passarem em frente de casa (pois morávamos ao lado de uma escola (Júlia Colombo de Almeida). 

Havia uma menina de 14 anos, que estudava nesta escola e morava ali nas redondezas. Nos finais de tarde, depois que ela saía da aula, ia até sua casa, pegava uma motocicleta Honda CB 400 cc, e passava várias vezes em frente à nossa casa, trocando as marchas descalça, acelerando ao passar pela lombada que havia quase em frente. Era a nossa musa! kkkkkkkkkkk

A minha tão desejada Caloi Mobylette 1987 ficou encostada, eu não queria mais saber dela. Passei a insistir para meu pai trocá-la por uma moto usada. Vi várias Honda CG 125 "tanque redondo", Agrale Elefant, Yamaha DT 180 e até uma Yamaha RD 350 que estava "encostada" em uma oficina.  O dono da RD pegava minha Mobylette como parte do pagamento, mas meu pai ficou com medo de comprar para mim uma moto tão potente.

Na semana do meu aniversário (início de maio), encontrei uma loja de motos em Leme (cidade a 21 km de Pirassununga) que tinha uma Honda CG 125 "tanque redondo", 1978, azul e pegava minha Mobylette como parte do pagamento. Só que eu teria que levá-la até lá! Meu pai concordou com o negócio, então, ingenuamente, peguei a Rodovia Anhanguera, pelo acostamento, rumo a Leme. Não rodei muito e fui parado por um Gol refrigerado a ar da Polícia Rodoviária. O policial disse que recolheria o ciclomotor para o pátio do posto de Polícia, então meu irmão Wallistein assumiu a direção da Mobylette, para evitar o pagamento do guincho - afinal ele era maior de idade (apesar de não ter, naquela época, carteira de habilitação). 

Felizmente aquela Caloi estava emplacada e com a documentação em dia, então sábado meu pai foi até o posto de Polícia e com a CNH, retirou o ciclomotor. Na semana seguinte o vendeu para o dono de um sítio em Porto Ferreira. O novo proprietário não se importou com as multas, pois só iria utilizá-lo em estradas rurais (de terra). Após 5 meses e 1.200 km rodados na minha mão, a Caloi Mobylette mudava de dono, exibindo 3.900 km no hodômetro. Desistimos de comprar uma moto.

Como meu pai tinha um dinheiro guardado e a inflação corroía o dinheiro, mesmo na poupança, resolveu comprar um segundo carro. Então, vimos alguns, como:
  • Corcel II "standart" (o mais básico), 1979, Amarelo Igaratá - de um policial civil que morava em frente de casa; 
  • Passat TS, 1978, Verde Mantiqueira Metálico - que estava sendo reparado em uma oficina do bairro; 
  • Belina II L, 1979, Branco Nevasca - de um sargento do 2º RCC do Exército; 
  • e Passat LS, 3 portas, 1977, Bege Saara - que estava em uma loja de carros usados, localizada na Avenida Newton Prado (Avenida Veículos). 


O meu preferido foi o Passat TS, claro! Esportivo, motor 1.600 cc, 4 faróis redondos na frente! Babei no carro, principalmente na cor, um verde metálico lindo, ornamentado com as faixas pretas da versão! Mas meu mecânico me desanimou, disse que aquele carburador duplo era alemão e que não existiam mais peças para ele. Que se desse problema, eu teria que "jogá-lo no meio do mato" e comprar outro.

Resumindo, dia 10/05/1992, pela primeira vez, passamos a ter um 2° carro: compramos o Passat LS, 3 portas, 1977, motor 1.500 cc, cor Bege Saara, mas contarei a história deste na próxima postagem, pois ainda ficaríamos quase 1 ano com o Del Rey, e tenho muita história para contar sobre ele. 

O nosso era idêntico, inclusive bancos de encosto alto; porém, o interior era preto
 Passat e Del Rey tinham dirigibilidade, comportamento e características muito distintas; o primeiro exibia linhas externas simples, sem frisos ou cromados, interior e painel bem "pobres", acabamento frágil e barulhento (painel trincava, o estofamento e as laterais de porta se desfaziam), mas era bem justinho, possuía direção direta -  muito leve - câmbio curto e preciso, bom de arrancada - apesar do motor 1500 cc e uma estabilidade exemplar; o segundo era mais pesado, arrancava mais devagar, porém era bem mais macio, silencioso, luxuoso, equipado, confortável e bonito. Então eu escolhia o carro em que eu ia sair, de acordo com a proposta do passeio, hehehe. 

Até julho, dirigi muito esses dois carros por Pirassununga. No dia 06/07, meu irmão Wallistein voltou para Campinas. Em seguida, ele se mudou para a Bahia, onde hoje é policial. 


Dia 09/07 mudamos para Bebedouro/SP.

Os móveis foram de caminhão. Fui no Del Rey com meu pai; no Passat foram minha mãe e minhas irmãs. Chegamos em Bebedouro no final da tarde e pudemos conhecer nossa nova casa, situada na rua Augusto de Carvalho, no Jardim Alvorada. Era um imóvel de tijolinho à vista na fachada (na época, ainda estava na moda) e possuía uma linda varanda coberta de telhas na frente. Uma bonita residência, apesar de ser localizada em um bairro distante do centro da cidade. Mas foi a única que meu pai encontrou para alugar.

Em Bebedouro, passei a dirigir menos os carros, pois a cidade era bem mais policiada, sempre havia blitz nas avenidas. Portanto meus rolês se restringiam ao bairro - e à algumas escapadas de noite, hahahahaha. 

Com esse Del Rey, fizemos algumas viagens: de Bebedouro, fomos algumas vezes a Pirassununga, viajamos a Americana, também para São Paulo e íamos toda semana a Ribeirão Preto, levar minha mãe ao médico (ela tinha passado por uma cirurgia). O carro não dava oficina, era só abastecer, trocar o óleo de 5 em 5.000 km e rodar. Robusto, econômico, durável e confiável. Seu motor à álcool foi o melhor que já dirigi entre carros fabricados nos anos 80: era virar a chave de manhã, mesmo no frio, e sair com ele, sem engasgos, falhas ou afogamentos. Esquentava rápido e era só alegria! Ainda lembro do quão gostoso era viajar com ele,  quanta maciez! Hoje prefiro carros mais esportivos, mas o Del Rey marcou minha adolescência em família. 

Em fevereiro de 1993, meu pai o vendeu para o dono do posto de gasolina do Jardim Cláudia. Este estava vendendo o posto e iria se mudar para Ribeirão Preto semanas depois. De fato, em seguida o posto mudou de dono. E nunca mais vi o Del Rey, que foi embora após 11 meses, marcando 157.000 km no hodômetro, sendo 24.000 km rodados nas nossas mãos. Hoje esse veículo encontra-se registrado em Macedônia/SP - só não sei qual o estado de conservação atual dele. Acredito que esteja firme e forte, pois era um carro "filé", bem cuidado e conservado.

Só nos desfizemos dele, porque encontramos um outro Del Rey à venda: um "Série Ouro", 2 portas, ano 1982, à gasolina, cor Azul Clássico Metálico, com interior monocromático marrom, travas das portas e vidros elétricos, ar condicionado, painel completo (com conta-giros, entre 6 instrumentos) e rodas de liga leve. Vendemos o Prata em um dia e compramos o Azul no outro. 

Mas a história deste, contarei posteriormente, pois antes tenho duas para narrar: a do Passat 77 supracitado; e a de um VW Fusca 1300, ano 1970, Bege Claro, que conviveu com os 2 Del Rey. Na postagem do Fusca, de quebra, contarei sobre uma Monark Monareta, 1985, vermelha. Altas emoções pela frente! Kkkkkkk


Próxima postagem: VW Passat LS, 3 portas, motor 1.500 cc, ano 1977, Bege Saara.


Um comentário:

  1. Top 25 US sports toto bets - Sporting 100
    The top 25 US sports toto bets · Bet365 · FanDuel · DraftKings · BetMGM · BetMGM · Caesars · SportsBetting.ag · Bovada 오래된 토토 사이트 · MGM

    ResponderExcluir